Páginas

O dia estava ensolarado, porém o Sol não aquecia a superfície terrestre com a mesma intensidade que dos meses anteriores. Ela estava sentada no canto da quadra da escola, toda vestida de preto e com um livro nas mãos. Tremendo, ela lia.
Por mais que fosse uma menina cheia de amigas, naquele dia ninguém a rodeava. Quais teriam sido os motivos para aquela mudança?
Talvez ela não fosse tudo o que as pessoas pensavam dela, ou talvez as pessoas não fossem tudo o que ela pensava delas.
Delicadamente, ela vira mais uma página do livro. Nada mudou. As circunstâncias são as mesmas, as personagens, as palavras, as fantasias... O que mudara afinal?
Alguém apareceu ali. O Sol que a iluminava foi encoberto pelo corpo que estava agora parado ao seu lado. Seu olhar se desviou das palavras e se fixou no rosto novo, nos olhos negros, na expressão alegre e curiosa, na boca que sorria para ela fazendo reverência com um "olá".
Sua resposta foi um sorriso tímido.
- Por que você vira tantas páginas, se a história é sempre a mesma?
Quem era ele? O que queria? Qual o seu objetivo? Há quanto tempo a observava?
- Porque quero descobrir o desfecho.
- E de que adianta um bom desfecho, se o decorrer não fez sentido?
- Se o decorrer não faz sentido, não se entenderá o desfecho, não é?
- Você tem razão... Qual o sentido de se virar tantas páginas da vida, sempre tão confusas? Nunca saberemos se o desfecho vai ser bom ou ruim, independentemente se o decorrer fez ou não sentido. Aqui, ninguém pode nos dizer o que vai ou não acontecer, porque é um livro inédito.

Ela olhou novamente para o livro, refletindo. Quando levantou novamente o olhar, não encontrou mais ali aquele menino. Procurou mais longe. O Sol ainda estava encoberto, e ela olhou para o céu. Uma nuvem passava.
Fechou o livro, se levantou e voltou para a sala de aula.