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domingo, 19 de outubro de 2008

"Eu nunca mais vou respirar
Se você não me notar
Eu posso até morrer de fome
Se você não me amar"

Foi essa a primeira música que Catherina ouviu quando começou a trabalhar no barzinho de esquina da Siqueira Campos com a São Sebastião, num dia de chuva, sem muito movimento.
O lugar era aconchegante, atraia muitos casais e famílias. O que mais chamava atenção na bandinha era o cantor, Adriano, que aparentava uns 32 anos e tinha seus olhos solitários, que faziam com que até o coração do mais apaixonado se esvaziasse com o tom da melodia.
Mas a mesma música era cantada todos os dias, sempre a primeira, sempre da mesma forma. Os olhos vazios fixavam Catherina todos os dias, com uma extrema precisão em fazê-la se sentir perseguida. Um mês se passou, e cada dia mais os olhos pareciam procurá-la, nunca deixando que ela se escondesse.
Um dia, num fim de show, Adriano procurou Catherina, convidando-a para dar uma volta. Ele era um homem bonito, cabelos lisos e negros, como os dela. Aceitou.
No final do expediente, Adriano ainda a esperava e eles sairam juntos, seguindo em direção à uma pracinha do bairro. O caminho foi silencioso, as palavras se escondiam, não deixando com que Catherina as encontrasse nem para escolher qual delas usar.
Pararam sobre a ponte que cortava o pequeno lago artificial no centro da praça, o qual refletia a luz da lua que os iluminava. Os olhos não eram tão vazios quando refletidos pela água. Adriano então tomou palavra:
- A lua é tão mais bonita quando vista na água.
- Parece tão mais alcançável não é?!
- Assim como você ao meu lado.
O silêncio permaneceu por algum tempo. O que Catherina poderia dizer? As palavras agora corriam de um lado para o outro, confusas, sem saber para onde ir.
- Por que me olha tanto?
Adriano deixou de olhar o lago, para então fixá-la novamente, como todos os dias.
- Imaginei que me perguntaria isso. É que você me lembra muito minha falecida mulher. Seus olhos são sonhadores, como os dela. Você tem um sonho?
- Sonho? Não sei bem ao certo... E a sua esposa, qual era o sonho dela?
- Cantar ao meu lado.
Adriano abaixou a cabeça.
- Não entendo o porquê dela não tê-lo realizado.
- Ela era muda. Mas seus olhos brilhavam toda vez que me ouvia cantar. Os olhos dela eram sonhadores, como os seus. Só deixaram de brilhar uma vez, quando alguns assaltantes invadiram nossa casa, e o medo tomou conta do brilho dos seus olhos. E ela foi atingida por um tiro quando tentou me proteger.
- Eu sinto muito...
O silêncio fez soar dentro dela o tom da música cantada todos os dias.
- A música que você canta todos os dias... é pra ela?
- Sim.
- Eu poderia fazer algo para tirar esse vazio que a música deixa nos seus olhos?
- Diga você mesma.

E a beijou.

Depois daquele dia, ele voltou a ter ao seu lado o brilho dos olhos sonhadores de que tanto sentia falta. E ela passou a realizar, todos os dias, o sonho que não era dela, mas mesmo assim, fazia com que os seus olhos brilhassem cada dia mais e que os olhos dele fossem preenchidos com a alegria de realizá-los.