Textos de Férias Perdidos numa agenda velha: Mona Lisa

O Sol nascera tímido naquela manhã e o vento soprava forte. Cheguei na rodoviária por volta das 7 horas e a aparência do lugar me parecia a mesma de sempre: pessoas andando de um lado para o outro, com medo de perderem seus ônibus, que entravam e saiam das plataformas a cada minuto.
Comprei minha passagem e fui esperar na plataforma onde chegaria o meu ônibus. Já havia lá uma pequena fila com os meus acompanhantes diários de viagem: um homem baixo e de cabelos grisalhos que se deixavam ver por debaixo do chapéu marrom, uma mulher de cabelos cacheados e de expressão firme - olhos afundados e arregalados - um corpo esticado e reto, e uma moça que sempre usava sandálias com salto de 10 cm, que combinavam em cor e tom com a blusa. Senti que atrás de mim mais pessoas se aglomeravam, mas não olhei para trás.
A porta do ônibus foi aberta e o motorista desceu as escadas para receber as passagens. Como fui o 4º a entrar, me sentei no banco da 3ª fileira e fiquei observando todos os que passavam por mim. Eu nunca havia reparado naqueles que viajavam comigo todos os dias.
Assim, perdido em pensamentos, quase perdia também o controle, quando ela entrou. Como era possível não tê-la visto nunca?
Fiquei olhando fixamente em seus olhos. Nossas íris pareciam se comunicar enquanto ela retribuia o mesmo olhar fixo, mas que era sério, sorridente, compreensivo, carente, apaixonado... indescritível.
E ela passou por mim.
Nunca mais a vi depois daquele dia. Pode ser que ela só tenha estado lá por um dia, mas não coloca tanta esperança nessa probabilidade. Com tão perfeito olhar, ela só pode ter vindo de outros mundos me visitar. Ou então, seja simplismente um fruto da minha mais bela imaginação.